Banda Brasil 70 - 40 anos de muita história pra contar


Eu era do bloco Paraopeba e comecei a minha vida de músico em 1956, tocava trompete. Nessa época a Clara Nunes já era cantora e minha colega, começamos juntos e tocamos alguns anos na banda Jazz Democrático, de Caetanópolis. Depois disso mudei de lá e parei um pouco de mexer com música, só fui retornar quando vim para Sete Lagoas em 1964. Neste mesmo ano entrei para uma banda chamada “Hi Five Golden Boys”, mais tarde em 67 comecei a tocar com o pessoal de uma outra banda chamada “Os Rebeldes”. Passado um tempo, um dos três sócios, que era um dos donos da banda, decidiu parar com os shows e me perguntou se eu não gostaria de continuar com a banda, aí aceitei. Em 15 de Novembro de 1969 a presidente de um dos clubes em que tocávamos me questionou sobre o nome da banda, ela achava muito forte “Os Rebeldes” e então sugeri “Brasil 70” já que estávamos próximos do ano 1970, foi assim que mudamos o nome.
 

Éramos sete elementos, íamos todos numa Kombi, inclusive todo o equipamento, para fazer as apresentações. Hoje em dia eu até brinco que, naquela época, “eu era feliz e não sabia”, porque, atualmente, só de equipamentos levamos um caminhão e gastamos, pelo menos, umas cinco horas para montar toda a estrutura. Imagina, tudo em uma Kombi! Nós tocávamos em clubes e bailes de formatura e os lugares ficavam lotados. Tocamos em tantas formaturas que uma vez eu fui me consultar com um Otorrino e ele falou: você tocou na minha formatura! Em 1982 começamos a tocar em Belo Horizonte, até então só tocávamos em cidades do interior do Estado.
 

Na estrada já vivemos de tudo um pouco, passamos por muitas dificuldades e também alegrias, uma vez tocamos em um congresso e tivemos a felicidade de dividirmos o palco com o Ray Conniff. São tantos anos de história que se fosse contar tudo ficaria aqui por dias! Eu percebo que hoje as bandas de baile não têm o mesmo valor, falo isso porque o nosso investimento é como o de um grande show de artista famoso, tocamos durante cinco horas, mas, no entanto, o nosso cachê não chega nem perto disso. Hoje qualquer dupla sertaneja que faz sucesso, fica rica com um ano. Não existem mais carnavais como os de antigamente, em que fazíamos os bailes nas cidades. Dá pra contar no dedo os lugares que ainda resguardam esse costume. E a concorrência está tão grande que as pessoas estão fazendo leilão para ver quem dá mais. Eu já vi algumas bandas vendendo show por pacote, você compra a apresentação e leva mais um samba, uns chinelos e por aí vai...


Mas com tudo isso vamos levando a vida. São 40 anos de história, de muitas lutas e conquistas. Eu já era músico antes disso e vi muita coisa acontecer. Meu filho também começou na banda, hoje ele trabalha colocando som pra artista. Recentemente tivemos a alegria de gravar um cd. Tem três músicas de nossa autoria. Quem sabe agora a gente vira artista famoso?

Ainda tocamos em formaturas, mas são em poucas. Os melhores meses são Janeiro, Fevereiro e Março. Um dia desses eu estava fazendo as contas e concluí que até a poucos anos atrás existiam umas quatro grandes bandas de bailes, e eram: Pêndulo, Gem 27, Brasil Exportação e a C&A, que era no sul de Minas. Hoje, são, pelo menos, umas vinte e cindo bandas, neste mesmo estilo. Aí a oferta ficou maior que a procura. O que acontece é que a grande maioria das pessoas não estão muito preocupadas com a qualidade no serviço, elas estão mais preocupadas com o preço. E nós procuramos manter a qualidade nas nossas apresentações, estamos sempre comprando novos equipamentos. Antigamente era uma Kombi e sete pessoas, hoje é um caminhão e 27 pessoas na equipe. Isso tudo fora o Ramon, meu filho, que tem que chegar pelo menos 5 horas antes para montar todo o equipamento.

 

A grande verdade é que a mentalidade dos jovens de hoje não é a mesma dos de ontem. Eles querem mais baladas, querem um artista ou dj. Com isso nosso trabalho perdeu muito espaço. E a maioria dos lugares em que tocamos estão até diminuindo os palcos. Tem lugares que não tem camarim, nem banheiro pra banda. Eu fico muito triste com tudo isso por que parece que, daqui a algum tempo, as bandas de baile vão acabar!

 

 

João Batista Corrêa (Dão)

 

 

 

João Batista Corrêa (Dão)
Maestro, fundador e líder da Brasil 70, desde 1969
.